" A Casa Número 866 "
Antes de me mudar, morava em uma casa muito antiga, num bairro nobre de Fortaleza, no Ceará. Sempre morei com meus avós, que já compraram a casa depois de construída. Engraçado como por mais de 30 anos, eles sempre diziam que a casa tinha 70, apesar de todos sabermos que a casa tinha bem mais. Quando pequeno, lembro inúmeras vezes de ter ouvido vozes no escuro corredor da casa. Via pessoas passarem correndo na frente das portas e, quando ia averiguar, não via ninguém. Tinha sempre a impressão de ter mais alguém naquela casa, mas nunca soube explicar o fato.
Uma vez, deitado no tapete da sala, enquanto assistia televisão, olhei para o lado e, após uma quina do cômodo, vi dois pequenos pés, calçados com sapatos preto femininos. Eram pés de criança. Era como se uma menina estivesse deitada no chão. Contudo, o susto maior veio quando vi os pés serem arrastados, de modo que eu já não mais os via. Alertei a todos da casa, que a trancaram imediatamente e a vasculharam procurando por algo. Nada encontraram. Muitos anos se seguiram com ligeiras visões e sussurros inexplicáveis. Uma certa noite, estando eu terminando de escrever um conto de terror justamente baseado nesta garotinha, desliguei o computador e fui trancar a porta do quarto de estudo.
Ao fazer isso, vindo do escuro quintal da minha casa, um grito agudo e ensurdecedor me fez trancar todas as portas restantes em questão de segundos. Acreditando ser apenas fruto da minha imaginação, fui assistir TV no mesmo canto onde tinha visto a aparição citada previamente. Tudo ia bem, eu estava mais calmo. Até um enorme barulho tomar conta de toda a sala. Levantei-me imediatamente, assim como nossa empregada. Ao acendermos as luzes, vimos que todos os porta-retratos (e apenas os porta-retratos) da sala estavam no chão, mas nenhum deles apresentava sequer uma trincadura em seu vidro. Depois de colocá-los de volta no local, resolvi ir dormir.
No caminho pelo corredor, escutei passos curtos me acompanhando, mas achei melhor não olhar para trás. Enrolei-me em meus lençóis e cobri meu rosto. Mantive meus olhos abertos, então, pude ver, através do tecido, a silhueta de alguém que foi até a beira da minha cama, olhou-me durante um minuto, virou as costas e saiu. Nunca senti um calafrio tão intenso subir pelas minhas costas. Na manhã seguinte, a empregada me revelou que ninguém mais na casa tinha visto ou ouvido nada. Nem mesmo o incidente dos porta-retratos, e que, depois de todos terem saído, enquanto eu dormia e ela lavava a louça, ela ouviu uma voz grossa e insistente chamando por seu nome.
A casa, agora, foi demolida. Em seu lugar, um prédio está sendo erguido. Conversei com alguns dos trabalhadores e eles já me falaram: O que tinha ali, não foi embora com a casa. Eles mesmos já haviam visto muitas coisas estranhas na construção, como crianças que apareciam e desapareciam nas galerias de colunas, homens andando com machados e mulheres se suicidando dos andares ainda em construção. Seja lá quem for viver naquele terreno, boa-sorte. Vai precisar.
* Lenda enviada por: Aton