16 de jun. de 2010

A seita assassina dos Tugues



Durante séculos, viajantes da Índia eram presos pelos tugues, membros de uma seita cujas origens remontavam ao século XIII. A irmandade incluía muçulmanos e hindus, mas todos afirmavam ter uma relação especial com Káli, a Mãe Negra do folclore hindu.


Kali é uma deusa Hindu muito famosas. Ela é a deusa da morte e da sexualidade. Sua vestimenta é aterradora. Além de um colar de crânios, ela costuma usar uma saia feita de braços e cabeças decepadas.

Segundo o mito deles, a deusa Kali lutou contra um demônio aterrador. Seu nome era Raktabija. Uma outra deusa, chamada Durga, tentou vencer o demônio sem sucesso. Então chamou Kali para completar o serviço. O problema é que cada gota de sangue que saia de Raktabija, um novo demônio-clone era formado.

Após muito tempo lutando, chegou a um ponto

Que Kali decepava o demônio e sugava o sangue antes que novos clones se formassem. Por esse motivo ela é representada com a lingua de fora. E em outra versão afirma que ela engolia os demônios por inteiros.

Para lhe ajudar Káli criou dois guerreiros com seu próprio suor, dando a cada um deles uma tira de pano chamada "rumal", para estrangular os inimigos. Depois que os demônios morreram, Káli instou seus dois tugues a continuar

em matando, de geração em geração. Eles esmagariam o mal, disse ela - e ganhariam bem em vida, pois também roubariam suas vítimas.

Na maior parte do tempo, os tugues viviam respeitavelmente, em geral como artesãos renomados, em suas aldeias natais. Porém, durante algumas semanas, todos os anos, dedicavam-se à carnificina, sua missão sagrada. Agindo longe de casa para evitarem o reconhecimento, bandos de dez a cinqüenta tugues atraíam suas vítimas para a morte mediante engodos. Com efeito, o nome da seita deriva da palavra em sânscrito para "enganador".



Acompanhavam grupos de mercadores ou peregrinos até surgir uma oportunidade para o assassinato. Quando o momento certo chegava, os assassinos aproximavam-se da vítima por trás, passavam os rumales em seu pescoço e apertavam, murmurando preces a Káli.

Antes de uma expedição, os tugues sacrificavam um carneiro diante de uma imagem de Káli manchada de sangue e coberta de flores. Ao lado da estátua estavam as ferramentas do ofício - corda, faca, e picareta. A faca era usada na mutilação ritual dos cadáveres das vítimas. Presumia-se que a mutilação agradasse a Káli, além de ser prática, pois dificultava a identificação.



Alguns viajantes eram imunes ao ataque. As mulheres, por exemplo, costumavam ser poupadas em deferência ao sexo de Káli e os homens santos, certos artesãos, músicos e poetas gozavam da proteção da deusa. Os leprosos e aleijados estavam isentos, pois os tugues temiam a contaminação. Não querendo arriscar-se a represálias por parte dos governantes coloniais, os matadores nunca molestavam europeus.

Com uma compaixão duvidosa, os tugues freqüentemente adotavam os filhos de suas vítimas, iniciando os meninos na seita, ensinando-lhes seu idioma e os sinais secretos. Os ritos iniciáticos dos tugues tinham a dignidade que os matadores julgavam ser apropriada para sua missão santa. Banhado e vestido com roupas novas, o jovem iniciando recebia sua picareta sagrada, que ele erguia para o alto coberta por um lençol branco, que representava o rumal. Depois ele comia a comida sagrada, um açúcar grosseiro, enquanto seus companheiros solicitavam a Káli um sinal de aprovação. Acabado o rito, o jovem tornava-se um verdadeiro tugue.

Com sorte ele ascenderia dos deveres do aprendiz - procurar vítimas, ajudar a imobilizá-las e cavar seus túmulos - para o posto de assassino de fato. As iniciações tugues eram solenes, mas alegres; nada dava a um pai tugue maior motivo de orgulho do que ver o filho seguir seus passos sangrentos.

Estima-se que mais de um milhão de vítimas tenha perecido nas mãos dos tugues antes que os governantes ingleses da Índia acabassem com a seita. O último tugue conhecido foi enforcado em 1882.

Káli, uma das mais importantes divindades da mitologia na Índia, era conhecida, entre outras características, pela sua sede de sangue. Káli apareceu pela primeira vez nos escritos indianos por volta do século VI em invocações pedindo sua ajuda nas guerras. Nesses primeiros textos foi descrita como tendo presas, usando uma guirlanda de cadáveres e morando no local de cremações. Diversos séculos mais tarde, no Bhagavat-purana, ela e seus seguidores, os dakinis, avançaram sobre um bando de ladrões, decaptaram-nos, embebedaram-se em seu sangue e divertiram-se num jogo de atirar suas cabeças de um lado para outro. Outros escritos registraram que seus templos deveriam ser construídos longe das vilas e perto dos locais de cremação.

Káli fez sua aparição mais famosa no Devi-mahatmya, onde se juntou à deusa Durga para lutar contra o espírito demoníaco Raktabija, que tinha a habilidade de se reproduzir com cada gota de sangue derramado; assim, ao lutar com ele, Durga se viu sobrepujada pelos clones de Raktabija. Káli resgatou Durga ao vampirizar Raktabija e ao comer suas duplicatas. Káli foi vista por alguns como o aspecto irado de Durga. Káli também apareceu como uma consorte do deus Siva. Engajaram-se numa dança feroz. Pictoricamente, Káli geralmente era vista sobre o corpo inclinado de Siva numa posição dominante enquanto se engajavam em relações sexuais.


Káli tinha um relacionamento ambíguo com o mundo. Por um lado destruía os espíritos malignos e se estabelecia a ordem. Entretanto também servia como representante das forças que ameaçavam a ordem social e a estabilidade por sua embriaguez de sangue e subseqüente atividade frenética.