Entre os tupi-guarani, relaciona-se a uma ave chamada Matinta-Perê [ou Matinta-Pereira] que, postada sobre uma só perna, emite um canto sombrio considerado de mau-agouro. Até hoje, uma das características e sinal da presença do saci é o seu assovio. A tradição, nascida no extremo sul, migrou com os índios para o centro-oeste e sudeste chegando, eventualmente ao norte-nordeste do país. É de origem indígena a denominação popular da ave: Saci, também chamada de "Peito-ferido".
Os portugueses fundiram a idéia da ave com as também pequenas criaturas dos bosques europeus, anõezinhos, alguns malvados, outros, apenas travessos que aparecem nos contos de fadas, como no clássico de Grimm Rumpelstiltskin: "um anãozinho muito feio dançando em uma roda de fogo com uma perna só". A idéia do pássaro foi, então, antropomorfizada. Mais tarde, os negros forneceram sua contribuição concebendo os sacis como almas penadas de crianças mestiças, bastardas, fruto das relações entre escravas e senhores, rejeitadas e freqüentemente abandonadas nas matas.
Finalmente, quando o mito se consolidava, entre os séculos XVIII e XIX, surgiu uma versão sobre o nascimento dos sacis, descrita por Monteiro Lobato [que também era pesquisador do folclore nacional] em sua obra infanto-juvenil O Saci: eles nasceriam nos seguimentos do bambu gigante chamado Taquaruçu onde se desenvolveriam até que, estando plenamente e magicamente formados, incluindo o gorro e o pito, rompiam as hastes e ganhavam o mundo passando a freqüentar fazendas e vilarejos onde praticam suas "artes": gorar ovos, chupar o sangue das vacas e cavalos, destes, também se ocupando em trançar-lhes as crinas, rezando o milho nas panelas para frustrar o desabrochar das pipocas, azedando o leite, gorando ovos, roubando fumo, que tanto apreciam, fazendo sumir pequenos objetos para perturbar a ordem doméstica, confundindo o caminho dos tropeiros e viajantes, assustando os animais com seu peculiar assovio.Essas travessuras, o saci faz somente para se divertir.
Como assombração que é, o saci tem o poder de aparecer e desaparecer por encanto e capturá-lo é é um procedimento relativamente difícil Segundo a tradição, relatada por Monteiro Lobato, a circunstância ideal para pegar um saci é em dias de ventania, quando aparecem redemoinhos de poeira e folhas secas. Produzir esses redemoinhos é uma das diversões dos sacis que, girando sobre a perna única, posicionam-se no centro da formação. O "caçador", munido com uma peneira "cruzeta" [que tem duas faixas em cruz como reforço no bojo], uma garrafa de vidro bem escuro e uma rolha também marcada com uma cruz na parte superior, aproxima-se do redemoinho e lançando a peneira bem no meio, aprisiona o duende.