Em 1847, o naturalista Auguste de Saint-Hilaire publicou um artigo que mencionava possíveis avistamentos de um animal conhecido como minhocão na então província de Goiás: rio dos Pilões, lagoa Feia e lago Padre Aranda:
“É um bicho enorme, preto, meio peixe, meio serpente, que sobe e desce este rio em horas, perseguindo as pessoas e as embarcações; basta uma rabanada, para mandar ao fundo uma barca como esta nossa. Às vezes toma a forma de um surubim, de um tamanho que nunca se viu; outras, também se diz, vira num pássaro grande, branco, com um pescoço fino e comprido, que nem uma minhoca; e talvez por isso é que se chama o minhocão.”
Outras descrições do minhocãoEm 1877, o zoólogo alemão Fritz Müller voltou ao assunto, descrevendo trincheiras que teriam sido abertas pelo bicho, suficientemente grandes para desviar rios e destruir pomares
O artigo citou um avistamento no Paraná da década de 1840, perto do Rio dos Papagaios - uma negra viu um animal "grande como uma casa" movendo-se no chão; um rapaz viu um pinheiro cair subitamente, enquanto a terra em volta era revolvida e no meio aparecia um animal preto em forma de verme, com 25 metros e um par de chifres.
Citou também um certo Lebino José dos Santos, que tinha ouvido histórias de um "minhocão" morto em Arapahy, Uruguai, com couro grosso como a casca de um pinheiro e blindado com escamas semelhantes às do tatu.
Outro "minhocão" teria sido visto na margem do rio das Caveiras, perto de Lages, por volta de 1870, por um certo Francisco do Amaral Varella, que o descreveu como um animal com um metro de grossura, não muito comprido, com um focinho como de um porco, do qual não viu patas. Desapareceu enquanto chamava os vizinhos, deixando marcas em forma de trincheira.
No século XX, os cientistas não voltaram a falar do minhocão - e a maioria dos folcloristas que tocam no assunto julgam que é apenas outro nome para a cobra-grande ou boiúna. Mas esta (assim como a sucuri verdadeira) não costuma ser descrita como cavadora de tocas ou túneis.
Richard Burton também comentou o minhocão:
"O Minhocão, que corresponde à Midgard, à grande Serpente do Mar, à Dabbar-el-Arz dos árabes, representa um papel tão importante quanto o dragão da China. Tem 40 metros de comprimento por 70 centímetros de diâmetro, a forma de um barril, sem escamas, cor de bronze e uma boca pequena e bigoduda. É um Verme de Wantley, no que diz respeito à antropofagia. Saint-Hilaire ouviu falar a respeito na Lagoa Feia de Goiás..."
Falando da Lagoa Feia, o coronel Inácio Accioli de Cerqueira e Silva, em trabalho realizado no cumprimento de ordens imperiais, escreveu ao presidente da província da Bahia:
"O melancólico da paragem, unido à cor negra que dentro da lagoa tem suas águas, cobertas de musgo, e o servir de viveiro a imensos jacarés, sucuriús e minhocões, justificam a denominação por que é conhecida (...) Quanto ao Minhocão, ouvi em Goiás a pessoas muito circunspectas e sisudas, que tem mais de 120 pés de extensão: com dois de diâmetro em sua grossura; sua boca é sobremaneira pequena, orlada de compridos cabelos mais grossos que os fios de piaçava, não tem escamas e sua pele é bronzeada, bem como a das minhocas ou vermes da terra, das quais tomou o nome, dilata-se ou comprime-se à vontade, apresentando neste segundo estado a configuração e grossura de uma pipa."
(Pardal, Paulo. Carrancas do São Francisco. 3ª ed. revista. São Paulo, Martins Fontes, 2006 (Raízes), p.81-91)
Wilson Lins menciona uma das versões correntes na região do rio São Francisco, que o minhocão seria um surubim velho, de mais de trezentos anos. Devido à idade, perdeu as barbatanas e ficou roliço, o que fez com que ficasse enfurecido, daí a explicação para todas as maldades que faz.
"Do seu corpo roliço, nascem os porcos-d'água, pequenos e feios monstros, cabeça e patas dianteiras de porco e o resto do corpo de peixe. Nadam muito e são usados pelo Minhocão para escavar os barrancos e matar as plantações marginais." (p.123)
Cada vez que um minhocão morre de velho, é substituído por outro surubim igualmente centenário, havendo a "mudança de reino".